Não ler

E hoje, somos como os textos inacabados que escrevo e que viram folhas espalhadas e amachucadas pelo chão do meu quarto. Fomos um livro sem ordem. Sem qualquer tipo de princípio meio ou fim. Fomos um rascunho a lápis ao qual nunca chegou a ser dado tempo para que pudesse ser passado a limpo. Fomos algo que foi facilmente apagado. Tentei passar os bloqueios de escrita da nossa história, uma e outra vez. Mas cheguei à conclusão de que todos os meus esforços foram em vão. De que o mais certo será eu apanhar todas essas folhas e colocá-las no caixote do lixo. Sabes porquê? Porque inspiração não me falta. E tão pouco me faltam novas personagens principais protagonistas das minhas histórias. Personagens desejosas de atenção, com uma sede insaciável de carinho. Pessoas que, de facto, se importam. Ao contrário de ti. Que te acomodaste ao facto de eu escrever para ti. De achares que te dava protagonismo suficiente para não mexeres uma palha por mim. Enganas-te. Não escrevi para ti. Escrevi sobre ti na esperança de conseguir aliviar o que sinto por dentro que me deixa dívida entre mandar-te à merda e pedir-te que voltes. Mas tu não foste embora. Desta vez fui eu. E orgulho-me disso. E orgulho-me por não me ter saciado com a tua antagonia, com a tua falsa serenidade típica de um gajo que se está a lixar. Foste um gajo. O típico gajo da história que não vale nada. Aquele galã sobrevalorizado que, no fim, deixa de captar o interesse. Foi isso que te tornaste para mim. Algo que não valia a pena, o tempo, a atenção. Algo que deixou de ter interesse. E lamento, por me ter tornado desinteressada. Mas foste aquele livro que eu me forcei a ler uma e outra vez na tentativa de talvez, no final, achar que foi uma leitura que valeu o tempo gasto. Mas não valeu. E hoje somos folhas rasgadas de um livro apodrecido na estante da minha prateleira a ocupar espaço, na secção do "não ler". 

(2015. Outubro, 20) 

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