Adeus

Eu estive sempre no mesmo local. No local onde já tudo aconteceu e já nada era o mesmo. No mesmo local onde me deixavas e eu esperava que me viesses buscar. Costumavas ir e voltar e eu habituei-me a essa rotina inconstante pois nunca demorava o mesmo tempo. Nunca soube onde ias. Se ias procurar-te ou procurar alguém ou apenas perder-te em encantos que eu não possuía e talvez nunca venha a possuir. Nunca soube o que querias, talvez nem tu soubesses. Procuravas tanto. Será que era por isso que voltavas sempre? Por o mundo em teu redor ser tão incerto e duvidoso? Ou porque bem lá no fundo, sabias que eu estaria sempre à tua espera? Podia não ter o que procuravas e talvez apenas me tomasses por garantida. Mas eu, estava sempre lá. E enquanto tu andavas entretido com sabe-se lá o quê, eu passava o meu tempo a recordar tudo o que passamos juntos. Talvez nem pensasses em mim quando ias e talvez só te lembrasses de mim quando voltavas porque estavas carente. Voltavas porque tinhas falta de algo que, mais uma vez, nem tu sabias o que seria. Passados anos, acho que ainda não sabes. Acho que ainda continuas a procurar em todas as outras o que eu não tinha. Acho que te desiludiste por saber que elas não tinham o pouco que eu possuía. Doçura e devoção. Amor e carinho. Quanto a isso, nada te faltou. Mas eu cansei-me. Cansei-me de ti e das tuas carências. Faziam-te mais faltas as tardes com amigos a ouvir as mesmas musicas e a fumar as mesmas tretas do costume, e as festinhas até às tantas, do que eu. E mais uma vez, porque como os cavalos tu também só aprendes um caminho, voltaste. Voltaste ao local onde me costumavas deixar. Mas desta vez, eu não estava lá. Nem lá, nem perto. Sabes o que aconteceu? Fartei-me de me sentir sozinha, contigo. Porque tu estavas habituado a deixar-me, e quem te deixou fui eu. Mas não te martirizes nem te preocupes. Porque eu fui, mas não volto.

(2016. Maio, 18)