Mau dia

Sinto-me em baixo. Toda a gente dias assim, certo? Todos nós já passamos aquelas 24horas de um dia que começou mal e tende a acabar pior. Aquelas 24horas em que não nos apetece fazer nada. Levantar da cama e fingir a mesma farsa, sempre a mesma merda. Já enjoa. Aquelas 24horas em que tudo é pura e simplesmente um enjoo. Não dá gosto ver as mesmas caras do costume, ouvir as mesmas musicas, as mesmas frases, ia aos mesmos sítios ou manter a rotina. Aquelas 24horas onde o melhor plano seria, sem dúvida alguma, dormir. Apenas dormir. 
Mas, para minha não surpresa, isso não é possível. E aí a minha mente domina o meu corpo e obriga-me a levantar-me da cama. A tomar banho. A vestir-me e arranjar-me. Como se o meu bom humor estivesse igual a todos os outros dias. A ir para a escola. A passar pelos mesmo sítios. A ouvir e a dizer as mesmas frases. A ver as mesma caras enjoativas do costume. A ouvir as mesmas musicas. E a fingir que está tudo bem. Haja alguma coisa boa no meio disto tudo, sempre é mais fácil do que explicar aquilo que nem eu entendo. Obriga-me a ir às aulas. A ouvir a mesma tanga do costume com o mesmo tom aborrecido e monótono. A ir para o intervalo e mostrar o típico sorrisinho de quem não quer ser desagradável nem tão pouco ser incomodada. Fumo o meu cigarro por vontade própria e lá vou eu, de novo. Mais uma aula. Mais do mesmo. O tempo nunca mais passa... Tic-tac, tit-tac... E, finalmente, a campainha toca e lá saem os alunos todos em êxtase por terem a tarde livre. Já eu, só me sinto entusiasmada por não ter de os ver mais à frente, e lamento se fui rude. Lá vou eu embora. A minha mãe chega. Entro no carro, dou-lhe um beijinho e antecipo-me mentalmente para responder "bem" à mesma pergunta do costume: "como correram as aulas?". Tento disfarçar. Infelizmente esqueço-me que a minha mãe não é como os meus colegas, e que me conhece melhor que ninguém. Eventualmente surge a pergunta "está tudo bem?". "Sim, estou só cansada" cansada de não fazer nada só se for, tive 3horas de aulas. Fico convicta de que a pequena mentirinha pegou, embora no fundo saber que eventualmente a minha mãe não acreditou mas que se contentou com aquilo que eu quis dizer. A viagem até casa, apesar de curta pareceu-me ter durado eternidades. Até que chego. Entro no elevador, esboço um sorriso como sempre, embora não seja genuíno. Lá está o meu corpo a contrariar-me como se o hábito e a rotina definissem todos os segundos da minha vida viciada. Almoço. Fecho-me no quarto. E cá estou eu. A escrever como se isso melhorasse alguma coisa para além do alívio que me proporciona quando solto o que sinto por dentro. Deitada na cama, de fones postos, e com a mesmas playlist de sempre. Há coisas que são mesmo inevitáveis. A beber café, para não variar. A escrita é o meu escape. Aqui permaneço. E ficarei até hora de jantar apesar de não ter fome ou qualquer tipo de vontade de comer. Irei ver a mesma novela do costume como se estivesse de facto interessada quando o interesse é nulo. Por fim, acontece aquilo pelo que eu ansiava desde que me levantei: dormir. Tapar-me com os lençóis, adormecer ferrada, sem insónias, sem pesadelos, suores ou gritos. E acordar amanhã. Num novo dia, com as mesmas coisas do costume. Pode ser que amanhã o mesmo enjoo do costume me saiba, novamente, pela vida inteira. Está um óptimo dia para se ter um péssimo dia repleto de "deixa-me em paz"

(2015. Setembro, 29)



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