"Reality"

É difícil responder à pergunta "O que não está certo?" quando tudo o resto está errado. 
O que é uma verdadeira merda, porque sempre que penso que estou a melhorar apercebo-me de que não estou. 
Sei que aparento estar feliz, realizada e satisfeita. Talvez me tenha habituado tanto a assumir essa faceta perante toda a gente que consigo fazê-la parecer suficientemente credível. 
Sinto-me meia que perdida de mim. Como se nada fizesse sentido. 
Tem dias em que me sinto cansada. Completamente esgotada. Como se nem todo o sono do mundo fosse suficiente para me tirar deste cansaço. E, quando durmo, não me apetece acordar. O que é triste. É como que um pesadelo invertido. Ao invés de dormir, ter um pesadelo e acordar aliviada, eu acordo num pesadelo. No meu próprio pesadelo em que toneladas dos meus medos se tornaram realidade.
Sofro de ansiedade. O que podia ser fácil de lidar, mas não é. 
Fico nervosa e ansiosa por causa de tudo, e por causa de nada. Às vezes tenho ataques de ansiedade e fico ansiosa e não sei porquê e, o pior, é que ninguém parece compreender. 
Sou uma espécie de paradoxo pouco interessante. Uma vez, a minha psicóloga disse que tenho um pouco de psicopata dentro de mim. Sou controlada. Até demais. Todos nós escondemos o que sentimos. Mas eu sou o tipo de pessoa que pode sentir três maremotos e quatro furacões dentro de si, e por fora parecer tão ou mais calma que uma brisa de verão. Controlo-me demasiado. Guardo para dentro e não exteriorizo. Eventualmente expludo. 
No entanto, mesmo sendo "controlada", tudo foge ao meu controlo. Sou como que uma espécie de uma control freak. Tudo tem de correr como eu imagino e planeio. Caso contrário, assim que algo não corra como esperado, fica o caldo entornado. E eu entro em transe. 
E é nestas alturas em que eu questiono tudo. O meu valor enquanto pessoa, o quanto me orgulho de mim mesma. E acima de tudo, eu penso. Penso demasiado. E tudo aquilo que me resta, sou eu, os meus pensamentos e um lugar muito escuro que eu não sei onde fica. 
Se acham que a ansiedade, a depressão e a tristeza não têm qualquer impacto na nossa saudade, pensem novamente. Todas estas emoções enfraquecem a nossa mente e consequentemente o nosso corpo. 
E é por isto que eu tentei ser mais calma, mais racional. Tento viver um dia de cada a vez. Consigo ser bem sucedida mas às vezes é impossível. A realidade cai sobre mim, tudo o que me atormenta toma conta da minha cabeça e consigo sentir tudo de novo. 
Tenho estado rodeada de óptimas pessoas. Pessoas bem dispostas e, acima de tudo, bem humoradas. Descobri recentemente que o bom humor é a chave para curar uma depressão, mesmo que não o consigamos emanar. Podemos e devemos estar rodeados de bom humor. É o melhor antídoto. É a rota mais fácil para a serenidade e para o contentamento. 
No entanto, nem sempre resulta. 
E face a todas estas dificuldades, seria mais fácil desistir. E já o fiz. Já deixei que tudo se apoderasse de mim. Já me deixei cair. E bati no fundo. E não me quis levantar. E deixei-me ser controlada pelas mãos suadas e pela dificuldade ao respirar, resultados de ataques de ansiedade ou de pânico. 
Mas isso não me leva a lado nenhum. Como uma pessoa que me é querida uma vez me disse "vão sempre haver dias melhores". 
E, embora hoje não seja um deles, eu acredito que o dia de amanhã seja. E só espero não voltar a acordar num pesadelo. 

(2015. Julho, 23)







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