Catfished

Não tenho por hábito falar de aqui de coisas pelas quais tenha passado em pormenor, nem de experiências mais privadas da minha vida. Mas aconteceu algo recentemente que quero muito partilhar com vocês.

Sempre fui uma pessoa muito crítica em relação aos ''namoros virtuais''. Nunca achei que fizesse sentido. Sempre pensei: como se pode gostar de alguém que não se conhece? Pois é. Estava de pé atrás com tudo isso até que... Aconteceu comigo.

Conheci um rapaz através do instagram. Chamado Pedro Crawford. 




Pedro Fernandes Burnay Crawford. 20 anos. Nascido a 3 de Fevereiro. Modelo. Trabalhador na revista FLASH!. Sportinguista. Amante de surf, skateboard, bodyboard, snowboard e de animais. Ou, como eu o caracterizava: bom demais para ser verdade.





E lindo de morrer..... Não esquecendo, porque os olhos também comem. E admito, encheu-me as medidas.

À medida que fomos falando, fui-me identificando cada vez mais com o Pedro. Partilhávamos os mesmos interesses, ideais e ambições. E, estranhamente, ao longo do tempo, começámos a partilhar sentimentos.

Todos os dias me sentia uma pessoa mimada até dizer chega. Ou ''mimenta'' como costumávamos dizer... Lembro-me de acordar, todos os dias, com mensagens que ele me deixava... De me prender e apegar a cada palavra, cada vez mais...





 Tudo parecia perfeito demais...

Lembro-me de todas as chamadas não atendidas por diversos motivos. Lembro-me de todos os encontros marcados e desmarcados por diversas desculpas. Passava a vida em hospitais. Tinha sempre toneladas de imprevistos. De cenas de pancadaria e de toneladas de aniversários e jantares família.

Por momentos cheguei a pensar: falta de sorte.

Os dias foram passando e tudo me parecia cada vez melhor, mas estranho.

Nunca fui uma rapariga ciumenta, mas lembro-me de fazer perguntas sobre dúzias de raparigas que comentavam as fotos dele. Recebia respostas como ''é só uma amiga'' e eu, na minha inocência, acreditava.

 Até ao dia.... Uma rapariga mandou-lhe uma boca sobre mim e eu piquei-me.
E resolvi identifica-la num comentário. Quando lhe digo ''deixa de andar atrás'', a dita cuja manda-me um direto no instagram a perguntar qual o cabimento do meu comentário.

Até que me diz ''sabes o que é gostar de alguém (...) gosto do Pedro, ele de mim, e tu não gostas dele''.
Ok, algo não estava a bater certo.

Ao fim de alguns minutos de conversa por chamada percebi tudo: eu não era única na vida do Pedro.

O problema de quando se puxa a linha de um novelo, é que ele se desenrola. E a história não ficou por ali.

Mais horas se passaram. E mais duas raparigas surgiram. Na mesma situação que eu.

Algo não batia certo. Confrontámos o Pedro, todas nós. E por alguma razão, ele só me respondia a mim. Porquê?

Fomos ao fundo da questão. Pesquisámos o número de telémovel do Pedro e fomos dar uma página de uma rapariga chamada Bárbara Nobre. Agora é que nada fazia sentido.

Entretanto, íamos confrontando o Pedro. E ele só me respondia a mim, e repetia que me amava.

Já tinha ouvido demais, e fui dormir.

Assim que acordei, o mundo desabou.

O Pedro não era mais o Pedro. Tudo era falso. As amigas, os amigos, a família. Nada lhe pertencia.
O verdadeiro ''Pedro'' chama-se então: Jan

O dito rapaz tinha conhecimento de tudo, e ninguém podia fazer nada.

Depois de desmascarado, o Pedro apagou o perfil.
Eis a última coisa que me disse:


E assim, o ''Pedro'' morreu. E a última mensagem que me mandou dizia ''és o amor da minha vida, amo-te Leonor Carmona''.

Em tempos ele mandou-me esta fotografia:



 Na descrição dizia: be my fish.

E de facto, eu fui o peixe dele. E ele um gato. Um gato predador que apanhou a sua vitima inocente, um peixinho.

E juntos continuaremos sempre a completar-nos, e uma palavra vai definir a nossa relação: catfish.


(With: Filipa Rocha, Maria João Lage e Flávia Magalhães)

(2015. Setembro, 1)

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