Preenchimentos

Devo ser desinteressante. 
Provavelmente beiro o aborrecido. Não entendo. Sou eu que afasto as pessoas, sou eu que não lhes dou o que elas necessitam, sou eu que não sou suficiente? Ou são as pessoas que não valem a ponta de um corno? Estou dividida, e continuo na dúvida. 
Eventualmente, toda a gente se cansa de mim. Ou sou eu que me canso delas inconscientemente e elas limitam-se apenas a acompanhar. A verdade, é que são raras as pessoas que escolhem acompanhar-me. Não por obrigação, mas sim por força de vontade. Já dei voltas e voltas à cabeça, e continuo sem entender. 
Dou tanto por tanta gente, e quando peço, peço pouco. Peço companhia. Peço atenção. Peço entrega. Eu, entrego-me. De corpo e alma. Dou até dizer chega, e mesmo assim, penso que nunca chega. E o que recebo? Vistos nas mensagens, caixas de voicemail nas chamadas, olhares desviados em encontros aleatórios no meio da rua. 
E mesmo assim, julgo que o problema está em mim. E de facto, está mesmo. As pessoas aproveitam-se da minha ingenuidade, a minha vulnerabilidade deixa-se afetar por falinhas mansas- coisas das quais sempre sentiu falta, a minha boa vontade é confundida e manipulada e consequentemente, eu sou usada para atender a uma necessidade acente num determinado propósito enquanto for suficientemente grande para preencher um vazio. Até chegar alguém, que o preencha com mais facilidade. E o que se segue? Sou afastada.
Estou cansada. Cansada de ser tapa buracos. Cansada de tentar preencher toda a gente, assinando contratos de tempo indeterminado. Só uma pergunta tem pairado na minha cabeça:
Quem me preenche a mim? 

(2014. Fevereiro, 26)

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