Rockabye

A verdade é “rockaste” o meu mundo por completo e o adeus não tardou em chegar. 

Fomos como a melodia perfeita que ficou sem letra. Não tivemos lírica ou métrica e não correspondemos à norma. 

Prendi-me a ti da mesma forma que uma nota musical se prende a uma pauta. Não obedeci a ritmos e não agi na batida. 

Sou a nota solta da sinfonia que é a vida e que ainda não encontrou a música perfeita para ficar. 

Quis que me tocasses delicadamente mas a inspiração não tardou em falhar. 

Fui mais uma guitarra desafinada a tentar fazer sucesso no meio da orquestra. 

És músico e eu poeta. 

Ligam-nos as palavras. Ligam-nos as frases soltas e as metáforas sentidas. 

És fã de rimas e eu não rimo com nada. 

Sentes o que cantas e eu escrevo o que sinto. 

Segues regras e eu não as tenho. 

Queres ter quem te ouça e eu quero ter quem me leia. 

Gosto de te ouvir mas tu não me sabes ler. 

Tu gostas do barulho e eu gosto do silêncio. 

Interpreto-te em versos e tu interpretas-me em linhas. 

Acabamos por ser dois incompreendidos num mundo tão semelhante. 

O mundo da arte. O mundo que mostra alma. O mundo cru e nu daquilo que não se esconde. 

E somos despidos de preconceitos. 

Lê-me nas entrelinhas da mesma forma que te ouço entre rimas. 

Reconhece-me pela minha escrita da mesma forma que te reconheço pela voz. 

Escutei-te mas não por dentro e tu leste-me as curvas mas não a alma. 

Somos a tecla solta do piano que é o amor. 

Mas no dia em que te sentires perdido, canta-me da mesma forma que te escrevo. Com carinho, apreço e com a amargura que restou por ter ficado um “e se” por desvendar. 


Quando quiseres saber de mim, estou à distância daquilo que nos une: uma palavra. 

(2017. Novembro, 23) 


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