Engana-me que eu gosto

Olha para mim e mente-me mais uma vez. 

Diz-me de novo que só me queres a mim e não há ninguém que te encha o peito como eu. Ilude-me e diz-me que serias incapaz de me magoar. Confessa-me erradamente que sou tudo o que sempre quiseste. Beija-me a testa e diz que me respeitas. Tapa-me os olhos e faz tudo pela calada. Dá-me a mão e pede-me que confie em ti. Leva-me para becos e deixa-me sozinha e vulnerável. Passa-me atestados de estupidez. Embrulha-te comigo e finge que fui especial. Anda comigo na rua e não te esforces por parecer que te orgulhas. Fala com outras. Vai ter com elas e faz o que te der na gana. Trai-me. Sê cobarde e acaba comigo como se a culpa fosse minha. Finge-te sofrido e magoado. Não me trates como prioridade mas sim como opção. Não te importes comigo. Sê convencido e crê que não precisas de mim para nada. Enche o peito de orgulho porque consegues qualquer gaja que queiras. Mete os pés pelas mãos. Não te preocupes. Desleixa-te. Perde-me. Não me procures. Bate no fundo. Isola-te. Deprime. Sente remorsos. Sente pena. Sente culpa. Sente a minha falta e lembra-te da minha ingenuidade. Olha para mim. Passa por mim na rua e não me fales. Vê-me e relembra-me como a mulher a quem não deste atenção. Vê me como a mulher que sempre te pediu muito e a quem nunca deste nada. E não penses que pirei de vez, digo-te tudo ao contrário porque preciso de ti e porque nunca fizeram o que eu pedi.  

(2016. Junho, 17)